30 de out. de 2018

Súplica de Confiança


SENHOR, MEU DEUS,
não tenho ideia de onde estou indo. 
Não vejo o caminho adiante de mim. 
Não posso saber com certeza onde terminará. 
Nem sequer, em verdade, me conheço. 
E o fato de pensar que estou seguindo Tua vontade, 
não significa que realmente o esteja fazendo. 

Mas creio que o desejo de Te agradar Te agrada, de fato. 
E espero jamais vir a fazer algo contrário a esse desejo. 
E sei que, se agir assim, Tu hás de me levar pelo caminho certo, 
embora eu possa nada saber a esse respeito. 

Portanto, hei de confiar sempre em Ti, 
ainda que eu possa parecer estar perdido e na sombra da morte. 
Não temerei, pois Tu estás sempre comigo, 
e nunca me deixarás enfrentar meus perigos sozinho. 

(Thomas Merton, Na Liberdade da Solidão)

9 de out. de 2018

Prece por uma Vida Simples

Senhor, ajudai-me a ser humilde no seio de um mundo tão repleto de ambição.
Ajudai-me a ser vulnerável num mundo tão preocupado com o poder.
Ajudai-me a ser simples num ambiente tão complicado.
Ajudai-me a perdoar numa sociedade em que a vingança e a retaliação criam tanta dor.
Ajudai-me a ser pobre de espírito num meio que deseja tantas riquezas e aspira tanto sucesso.
Venho a vós com um coração aberto, pedindo-vos que eu possa confiar nos dons que me deste e ter a coragem de assumir riscos em vosso serviço.
Não sei para onde me conduzireis. Não sei onde estarei daqui a dois, cinco ou dez anos.
Não sei da estrada à minha frente, mas sei que estais comigo para me guiar e que, para onde quer que me conduzais, mesmo para onde eu preferia não ir, vós me levareis para mais perto de meu verdadeiro lar.
Obrigado, Senhor, por minha vida, minha vocação e pela esperança que plantastes em meu coração. Amém!

(Henri Nouwen)

3 de abr. de 2018

Sobre a arte de sentir-se em casa

Tudo neste meu eremitério enche-me de alegria. Há muitas coisas que poderiam ser mais perfeitas, de uma forma ou outra – esteticamente ou ‘domesticamente’. Mas este é o lugar que Deus me concedeu após muitas orações e muita expectativa – sem que eu o mereça. É um encanto. Não consigo imaginar mais júbilo na terra do que ter este lugar e nele viver em paz, em silêncio, para refletir e escrever, para ouvir o vento e todas as vozes do bosque, vivendo à sombra da grande cruz de cedro, preparando-me para minha morte e meu êxodo para a pátria celeste, para amar meus irmãos e toda humanidade, para rezar pelo mundo, pela paz e pelo bom senso entre os homens. Assim, é este o ‘meu lugar’ no mundo de hoje. E isso me basta!
Thomas Merton

Do julgamento à compaixão

Vejo-me constantemente formando opiniões sobre alguém: do tipo “ele não pode ser levado a sério. Ela só está querendo chamar atenção. Eles são encrenqueiros que só querem criar problemas. Eles são isso e aquilo...”. Esses julgamentos são uma forma de assassinato moral. Eu rotulo meus companheiros seres humanos, categorizo-os e os coloco a uma distância segura de mim. Ao julgar os outros assumo falsas funções. Por meus julgamentos acabo dividindo o mundo entre os que são bons e os que são maus e, assim, faço o papel de Deus. Mas todos que fazem o papel de Deus acabam atuando como o demônio.
Julgar os outros implica que, de alguma forma, nos situamos fora do lugar onde seres humanos fracos, imperfeitos e pecadores vivem. É um ato pretensioso e arrogante que revela cegueira não só em relação aos outros, mas também em relação a nós mesmos.
Sou movido pela ideia de que o pacificador jamais julga alguém – nem seu vizinho próximo, nem seu vizinho distante, nem seu amigo, nem seu inimigo. Ajuda-me a pensar em pacificadores como pessoas cujo coração está tão ancorado em Deus que elas não precisam avaliar, criticar, ou pesar a importância dos outros. Elas podem ver seu próximo – seja ele norte-americano ou russo, nicaraguense ou sul-africano – como um colega ser humano, um colega pecador, um colega santo, homens e mulheres que precisam ser escutados, olhados e cuidados com o amor de Deus e que precisam ter espaço para reconhecer que pertencem à mesma família humana que nós.
Lembro-me com nitidez de ter conhecido um homem que nunca julgava ninguém. Eu estava tão acostumado a viver em meio a pessoas cheias de opiniões sobre os outros e ansiosas por compartilhá-las que, a princípio, me senti um pouco perdido. Então me questionava: sobre o que se conversa quando não se está discutindo ou julgando alguém? Porém, ao perceber que aquele homem também não me julgava, passei gradualmente a experimentar uma nova liberdade interior.
Esse homem me fez ver que posso viver sem a pesada carga de julgar os outros e posso ser livre para ouvir, olhar, amar e receber sem receios os dons que me são oferecidos. E, quanto mais me liberto da compulsão interior de formar opiniões rapidamente a respeito de quem o outro realmente é, mais me sinto parte de toda a família humana que se estende sobre o nosso planeta, de leste a oeste e de norte a sul.
Os Padres do deserto do século IV diziam: “Julgar os outros é um fardo pesado”. Eu tive alguns momentos na vida em que me senti livre da necessidade de fazer qualquer juízo de valor acerca dos outros. Senti que me tinha sido tirado um peso dos ombros... Mas, só poderemos pôr de lado o fardo pesado de julgar os outros quando estivermos dispostos a substituir o julgamento pela compaixão.

Henri Nouwen

3 de dez. de 2017

Confia na tua voz interior

Desejas realmente converter-te? Estás disposto a modificar-te? Ou continuas agarrado ao teu velho modo de vida com uma mão enquanto com a outra pedes aos outros que te ajudem a mudar? A conversão não é com certeza algo que possas encontrar por ti mesmo. Não se trata de um exercício da própria vontade. Tens que confiar na voz interior que mostra o caminho. Tu conheces essa voz. Ouve-la com frequência. Mas depois de ouvir com clareza o que ela te pede começas a fazer perguntas, a fabricar objecções e a pedir a opinião de todos. Assim deixas-te enredar por inúmeros pensamentos, sentimentos e ideias muitas vezes contraditórias e perdes contacto com o Deus que habita dentro de ti. E acabas por te tornar dependente de todas as pessoas que reuniste em torno de ti. Só dando constantemente ouvidos a essa voz interior conseguirás converter-te a uma nova vida de liberdade e alegria.

(Henri Nouwen, A Voz Íntima do Amor)

28 de mar. de 2017

Não culpe a ninguém, a escolha é só sua!

Ou aprendemos a arte de silenciar diante de nossos medos, dores e angústias ou não acharemos a paz que nossa alma tanto deseja.
Ou aprendemos a deixar partir o que em nós virou fardo ou estaremos destinados a uma vida acorrentada e ilusória.
Ou nos libertamos das falsas expectativas em relação aos que amamos ou nunca os deixaremos ser quem eles são.
Ou descobrimos o poder de nossa interioridade ou não compreenderemos a nossa missão neste mundo.
Ou damos espaço e liberdade aos poucos amigos que a vida nos deu ou não os teremos por muito tempo.
Ou vivemos o agora da vida sem o peso da antecipação ou nunca nos sentiremos em casa dentro de nós mesmos.
Ou nos libertamos de nossas neuroses e futilidades ou passaremos a vida inteira mendigando afetos.
Ou aprendemos a hora certa de "desaparecer" ou não suportaremos o vazio e o tédio da vida conectada.
Ou fazemos as pazes com a nossa solidão ou não seremos inteiros em nossas relações.
Ou aprendemos a viajar para dentro e calar nossos excessos ou não descobriremos o verdadeiro sentido de nossa existência.
Não culpe a ninguém, a escolha é só sua!
F.Galvão